Futebol: sonho e ilusão - autoria do escritor José Pedro Frazão
O sonho do Aquidauanense Futebol Clube de disputar a final do campeonato estadual profissional da 1ª divisão tinha o mesmo ingrediente do sonho da cidade de Campo Grande tornar-se subsede da Copa Mundo de 2014: a ilusão.
Todos nós, de Anastácio e Aquidauana, sonhamos e torcemos pelo Azulão da Princesa, assim como chegamos a acreditar na possibilidade de Campo Grande receber os jogos da futura copa. Mas acabamos frustrados com a triste realidade que levou à desclassificação de ambos.
A cada jogo do Aquidauanense, mergulhávamos todos num mar de adrenalina. Éramos levados pela emoção do esporte e pelo ufanismo à cidade que se fazia representar no sonho da bola e na ilusão da glória. Orgulhávamo-nos com as vitórias, amenizávamos as derrotas e nos conformávamos com os empates. As mesmas explicações pacionais se adequavam às situações positivas e negativas.
O palco de sonhos e ilusões era feito de estádio lotado, gols comemorados, torcida alucinada, charanga animada, dirigentes esforçados, autoridades e empresários presentes e generosos – todos construindo uma esperança que uniu como nunca a grande comunidade adepta do futebol.
De algum modo quase todos sabíamos que o time vivia um retorno à elite do futebol, um sonho, uma possibilidade, e que havia mais fé que certeza. Só não imaginávamos, no calor da paixão, que há uma diferença muito grande entre sonho e ilusão no caminho de quem busca um objetivo. Não que estivéssemos totalmente iludidos, mas o nosso sonho não era um sonho lógico, era mais uma ilusão, uma utopia, talvez uma quimera e não propriamente um sonho.
O sonho, para se concretizar, precisa de fundamentos, de coerência; à ilusão basta a sorte. É como um estudante que “sonha” passar no vestibular, mas não estuda; aventura-se na ilusão de acertar as questões no “chute”. Foi assim com o futebol de Aquidauana e foi assim com a não escolha de Campo Grande para a Copa. O primeiro, porque há muitos anos entregou o seu futebol à própria sorte, ao improviso, ao acaso, sem educação esportiva, sem boas praças de esportes e sem os incentivos exigidos nos tempos modernos; a segunda - a despeito das politicagens federadas -, porque é notório que Campo Grande também não tem valorizado o futebol de base nem o profissional, tanto que o seu principal estádio vive em ruínas e os times da capital não ganham títulos há anos, perdendo totalmente a hegemonia do futebol sul-mato-grossense para o interior, num verdadeiro retrocesso.
É obvio que o problema é estrutural.
Sem planejamento, sem espaço adequado e sem educação esportiva, não se formam bons atletas. Por isso o time de Aquidauana era de jogadores, em sua grande parte, emprestados (de fora), de pouca afinidade com o sentimento esportivo local; logo, havia mais lealdade que amor à camisa.
Portanto, assim como o desestruturado futebol da Capital não foi suficiente para convencer a CBF e a FIFA, que optou mais pela valorização esportiva do Norte (Cuiabá) que pelo potencial ecológico do Sul (Campo Grande), o futebol do Aquidauanense também não se firmou como sonhava.
Se vencêssemos não seria a concretização de um sonho, mas apenas uma conquista passageira; não teríamos uma alegria real, somente euforia; uma ilusória aventura de momento. A sábia derrota nos ensina que é preciso recomeçar. Restou-nos dessa previsível desilusão o bom exemplo dos torcedores, o hercúleo esforço de desportistas abnegados e a vontade de alguns jogadores, que nos envolveram em sonhos e ilusões. E de tudo ficou a lição maior, que é preciso continuar sonhando, mas sem a ilusão de que futebol seja somente uma caixa de surpresas.
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