Especial: E se Jesus nascesse no Pantanal?
A grande novidade dos bonitos cenários natalinos montados na Praça dos Estudantes é a substituição de alguns elementos tradicionais por outros da cultura pantaneira. No presépio, por exemplo, essa contextualização é bem visível. Isto porque, embora haja uma diversidade de modelos no mundo cristão – grandes e pequenos, orientais e ocidentais, europeus e asiáticos – em qualquer um deles sempre há duas figuras muito populares: o boi e o jumento.
No Natal Pantaneiro, como podemos chamar o projeto desenvolvido pelo Governo Municipal, aparecem próximos ao menino Jesus e seus pais, José e Maria, espécies como galo, tuiuiú e a garça, entre outros. É provável que isto gere muitos comentários e observações e até algum choque. Porém, esta postura não é aconselhável.
A iniciativa é oportuna porque lança luz sobre a necessária distinção entre cultura e escritura. A cultura é o conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência, transformando a realidade. Já a Escritura, do ponto de vista da teologia, pode ser definida como a revelação de Deus para o homem.
Assim, a imagem que se constrói do menino que nasceu em Belém passa necessariamente pela sua cultura. Já o que ele ensinou, a posteriori, já como rabino, está além dela. A guarda do sábado, por exemplo, alvo de tantas polêmicas, tem relação direta com a sua cultura. O “dia de descanso” das atividades normais, pode muito bem ser outro. O uso do vinho, na Santa Ceia, a mesma coisa. Até por isto, num encontro evangélico de nações indígenas, no norte, usou-se o açaí como elemento substitutivo. Há uma infinidade de exemplos quando cultura e Escritura são confrontados.
Por esta razão, se Jesus tivesse nascido no Pantanal muitos detalhes da Bíblia seriam diferentes. Um Jesus Pantaneiro teria uma vestimenta diferente do Jesus de Nazaré. O mesmo se pode dizer de todos os outros parâmetros envolvendo seus gostos e hábitos. Ele, por exemplo, tomaria tereré e comeria arroz carreteiro, com muito gosto. Sua mensagem, porém, seria a mesma. E sua maneira de se relacionar com o próximo, marcada essencialmente pelo amor, seria a mesma.
Os detalhes inseridos nos cenários da Praça dos Estudantes, portanto, são bem vindos. O importante, é manter o espírito e a mensagem da festa. Natal sem a perspectiva de que “é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”, não é Natal. É uma festa qualquer.
Fonte: Vivaldo S. Melo em O Pantaneiro
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