sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A culpa é de Tordesilhas - Sebastião Nery

SALVADOR - Em 1965, foi criado o município de Anastácio, desmembrado de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, entre Campo Grande e Corumbá. O governador Pedro Pedrossian, adversário do primeiro prefeito de Anastácio, Vicente Medeiros, fez uma estrada ligando Aquidauana a Jardim, mas, por birra, o DER tirou Anastácio do caminho e fez a placa assim: "Rodovia MT-65, Aquidauana/Jardim".

Anastácio ficou indignada. Houve um congresso de municípios em Cuiabá. Na sessão de encerramento, o prefeito de Anastácio pediu a palavra:

- Gostaria que mandassem providenciar a escritura do município de Anastácio, já que não é reconhecido nem pelo senhor governador.

E mostrou uma foto da placa. O deputado René Burbour, aliado do governador, que presidia a solenidade, respondeu:

- O senhor prefeito tem toda a razão. Eu, inclusive, já escrevi a Portugal, pedindo a escritura do Brasil. Assim que chegar, faremos um desmembramento e mandaremos a sua escritura. A culpa é do Cabral, que nos descobriu, não fez o desmembramento e esqueceu de mandar fazer a escritura.

Eike e Dirceu

O playboy Eike Batista e seu lobista José Dirceu estão com ódio dos reis Dom João II de Portugal e Fernando e Isabel de Castela e Aragão, e do papa Eugenio IV, que, no Tratado de Tordesilhas, de 1494, deixaram a Bolívia para os espanhóis. Pensavam que era mais fácil fazer corrupção lá nas bandas do Evo Morales e agora viram que nos governos de Lula e PT é muito mais.

O Eike havia corrompido um punhado de autoridades bolivianas anteriores e estava construindo uma imensa carvoaria, que ele chamava de Siderúrgica EBX, em Puerto Suarez, do lado de lá do rio Paraguai, em frente a Corumbá, para fazer ferro-gusa queimando a madeira do Pantanal boliviano.

As leis bolivianas de meio ambiente proíbem qualquer tirada de madeira às margens dos rios. Eike comprou as leis, como compra escolas de samba no Brasil. Mas veio o Evo Morales e pôs o Eike para correr. Ele pôs seu guarda-costa-mor José Dirceu em um jatinho e mandou ir lá negociar. Não adiantou.

Marina Silva

Na época, os jornais contaram que Eike estava querendo fazer do lado brasileiro o que não conseguiu do lado boliviano: trazer os fornos de sua carvoaria para a outra margem do rio Paraguai, em Corumbá, Mato Grosso do Sul, e queimar o que resta de madeira virgem no Pantanal mato-grossense.

O Eike e o Zé Dirceu estão acostumados a queimar propinas e mensalões pagando corrupção. E a moral do governo Lula e do PT hoje é a dos espertos faturantes públicos Paulo Betti ("não há governo sem as mãos sujas, não dá para governar sem botar a mão na merda") e Wagner Tiso ("não estou preocupado com a ética do PT nem com qualquer tipo de ética").
Mas ninguem acreditava que eles conseguiriam dobrar a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, com todo seu passado e seu penache.

"Veja"

Pois esta semana, no "Radar" da "Veja", o Lauro Jardim contou:

"O ferro de Eike - Sabe aquele projeto de uma usina de ferro-gusa, empreendimento de Eike Batista que deu uma tremenda confusão na Bolivia? A alegação inicial, da turma de Evo Morales, era que havia problemas ambientais no projeto. Mas, na semana passada, foi dada (sic) uma licença ambiental para o mesmíssimo projeto (ou seja, dois fornos de ferro-gusa para 400 mil toneladas por ano) num local distante 8 quilômetros daquele. Mas foi em Corumbá, Mato Grosso do Sul, Brasil"...

Zeca do PT

Agora, recebi, de Corumbá, a denúncia com a história toda, gravíssima, mandada pelo jornalista Leonardo Campos, em nome da Associação de Moradores de Maria Coelho, distrito a 40 quilômetros de Corumbá (MS):

1 - "Mato Grosso do Sul aguarda apreensivo pela decisão da Justiça no caso da doação de um terreno à EBX Siderurgia, do empresário Eike Batista. A EBX recebeu um terreno de 250 hectares do governador do Mato Grosso do Sul, José Orcirio Miranda dos Santos, o Zeca do PT (que está muito guloso e vai deixar o governo levando uma surra de dar bicho), pertencente à EGRHP (Empresa de Gestão de Recursos Humanos e Patrimônio do Estado)".

Pantanal

2 - "O terreno fica em Maria Coelho, distrito de Corumbá. Foi doado ilegalmente e sem nenhuma licitação. Além de improbidade administrativa - terreno público doado para fins privados -, 70 famílias, que residem em área de 60 hectares do terreno, estão ameaçadas de expulsão. São crianças, mulheres e idosos, que moram em pequenas propriedades rurais, próximas ao maciço de Urucum, segunda maior reserva de managanês da América Latina".

3 - "As questões sociais e administrativas são dois problemas que se somam ao risco ambiental. É uma área com nascentes de água mineral e cujos córregos podem secar, após a implantação da exploração da siderúrgica. Os empresários locais temem que o lobby de Eike Batista (e de seu agora sócio José Dirceu) se sobreponha à lei e aos direitos dos moradores da região".
Com a palavra, a ecológica (ainda?) ministra Marina Silva.

sebastiaonery@ig.com.br

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